Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, a 28 de junho de 1945. Foi um cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco Beleza".
Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por figuras como o ocultista britânico Aleister Crowley.
Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e
ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas crenças dessas
correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou
de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu gozar de uma audiência
relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo
álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do
Diabo (1989), esse último em parceria com Marcelo Nova.
Sua obra musical tem aumentado continuamente de tamanho, na medida em
que seus discos (principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos,
tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e
queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos.
Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem
Maiores Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou Raul Seixas
figurando a posição 19ª, encabeçando nomes como Milton Nascimento, Maria
Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros.
No ano anterior, a mesma revista promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos
da Música Brasileira, onde dois de seus álbuns apareceram Krig-ha, Bandolo! de
1973 atingiu a 12ª posição e Novo Aeon ficou em 53º lugar.
Se ainda estivesse vivo, o cantor e
compositor Raul Seixas (1945-1989) estaria completando neste 28 de junho 70
anos de idade e entrando assim numa etapa da vida em que já encontram – ou
estão em vias de ingressar – vários contemporâneos seus, igualmente ídolos da
música popular brasileira.
Como nos versos de um de seus
primeiros sucessos, poderia continuar sendo “uma metamorfose ambulante”, sem
ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Ou então, contradizendo o que
pregava para si mesmo na letra de outra canção, Ouro de Tolo, estar sentado “no
trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a
morte chegar”.
Morto prematuramente há quase 26
anos, Raul Seixas é um mito que permanece vivo e que a cada dia conquista novos
fãs. É um ícone do rock brasileiro, que sucessivas gerações cultuam de forma
espontânea, sem nenhuma estratégia de marketing neste sentido, como é comum nas
últimas décadas com diversos ídolos do cenário pop mundial.
“Eu não tenho medo de morrer. Tenho
medo de que me esqueçam”, disse Raul em uma das inúmeras fitas que deixou em
seu famoso baú. Como acontece com muitos artistas, Raul Seixas tinha medo de
ser esquecido e preocupado com a posteridade cultivava o curioso hábito de se
autoentrevistar, gravando essas entrevistas em fitas de rolo ou cassete.
Hoje os escritos e depoimentos
gravados do “maluco beleza” percorrem o Brasil na voz do ator Roberto Bontempo,
que há 15 anos encena o espetáculo Raul fora da lei – a história de Raul
Seixas. A peça é um musical diferente, em que não há o texto de um autor para
contar a história do artista.
“Tudo o que eu falo na peça são
escritos do próprio Raul. E acho que é por isso que o público se identifica demais
com o espetáculo, o que explica a longevidade dele”, comenta Bontempo, que nos
últimos dias 19 e 20 apresentou mais uma vez no Rio, no Teatro Rival, o
musical, que tem direção de Luiz Arthur Nunes e José Joffily.
Fã de Raul desde jovem, o ator conta
que a ideia de montar o espetáculo surgiu quando leu O Baú do Raul, livro que
reúne os escritos dos diários do cantor. Organizado pela penúltima mulher de
Raúl, Kika Seixas e pelo crítico musical Tárik de Souza, o livro foi lançado em
1992 e desde então já teve sucessivas edições.
“Resolvi fazer o espetáculo para
botar o pensamento do Raul no palco. E aí entrei em contato com a família dele,
com a filha, com a Kika Seixas, com a mãe do Raul, ainda viva na época. Fui me
aproximando das pessoas que conviveram com o Raul. E a partir daí fiz o roteiro
do espetáculo, juntamente com os diretores,” conta Bontempo.
Para o ator, Raul Seixas foi uma
pessoa muito à frente de seu tempo e isso assegura a atualidade de seus
escritos, de suas ideias – como a da Sociedade Alternativa - e de suas músicas.
“É uma obra atemporal. O Raul falava do universo, do mundo, de uma forma muito
ampla, abrangente, metafórica e isso acaba não envelhecendo. Pelo contrário, se
torna eterno”, avalia.
Nascido em Salvador, no dia 28 de
junho de 1945, Raul Seixas era um adolescente quando o rock surgiu no cenário
musical dos anos 50 e chegou ao Brasil. Uma febre que contagiou jovens
nordestinos em plena época em que o baião e seu criador, Luiz Gonzaga,
predominavam nas rádios e nos bailes da região.
Fascinado pelo rock e pelo gestual de
Elvis Presley, o adolescente Raul assistia a todas as sessões de um filme do
cantor, Balada Sangrenta (1958), em cartaz na capital baiana naquela época. Em
outro estado do Nordeste, um adolescente paraibano, dois anos mais novo que
Raul, via o mesmo filme com idêntica fascinação.
Admirador de Raul, embora nunca tenha
sido exatamente um fã dele, o cineasta Walter Carvalho – o adolescente
paraibano que também curtia Elvis – veio a se tornar o diretor do documentário
Raul, o início, o fim e o meio, filme biográfico sobre a obra do cantor e
compositor, lançado em 2012. Convidado pela distribuidora Paramount, Carvalho,
documentarista e diretor de fotografia consagrado, aceitou dirigir o filme.
“Eu não escolhi o Raul. O Raul me
escolheu”, diz o cineasta, que para fazer o filme gravou mais de 250 horas de
entrevistas e reuniu outras 200 imagens de arquivo. “Eu entrevistei 93
pessoas e coloquei 54 no filme. Na montagem, alternei entrevistas que falavam
da vida privada de Raul com outras sobre a trajetória artística dele,” conta.
Assistido por 171 mil espectadores,
algo difícil de alcançar no gênero, o filme é recordista de bilheteria entre os
documentários nacionais. “O filme saiu de cartaz na chamada curva ascendente,
quando estava sendo exibido em 1,4 mil salas do país. Saiu para dar lugar a
filmes da própria Paramount, que estavam na fila para serem exibidos”, destaca
o diretor.
Com 17 discos lançados em 26 anos de
uma carreira iniciada em 1968, quando ele ainda integrava a banda Os Panteras,
Raul Seixas é reconhecido pela crítica musical como um dos pais do rock
brasileiro. Seu estilo musical, na verdade, tem muito de rock e outro tanto de
baião, gêneros que ele conseguiu unir em músicas como Let Me Sing, Let Me Sing.
“Na verdade, ele é o cruzamento do
Elvis Presley com o Luiz Gonzaga e o Jackson do Pandeiro”, opina Walter
Carvalho, que deixou isso claro na abertura do documentário. “Não é à toa que
eu decidi começar o filme com Easy Rider, um filme emblemático da
contracultura, passando para o Elvis e caindo no sertão com o Luiz Gonzaga,”
ressalta.
Toca Raul!
Ninguém sabe como começou, quem foi o
primeiro. No meio de um show de rock, alguém gritou e isso virou um bordão,
sempre repetido em shows pelo Brasil afora. De tão repetido, o Toca Raul!
acabou virando em 2007 tema de uma música do cantor e compositor maranhense
Zeca Baleiro.
“Mal eu subo no palco
Um mala um maluco já grita de lá
-Toca raul!
A vontade que me dá é de mandar
O cara tomar naquele lugar
Mas aí eu paro penso e reflito
como é poderoso esse raulzito
Puxa vida esse cara é mesmo um mito”.
Desde 2011, o bordão dá nome a um
bloco do carnaval de rua carioca, criado por um grupo de amigos para
reverenciar Raul Seixas. A cada ano, o bloco Toca Rauuul! leva cerca de 20 mil
pessoas ao seu desfile na Praça Tiradentes, com um repertório que atravessa
todas as fases da trajetória do “maluco beleza”, em ritmos diversos.
Fenômeno de comunicação de massa, o
culto a Raul tem outros rituais. Um deles é a passeata que todos os anos
acontece no dia 20 de agosto – data da morte dele – em São Paulo, com os fãs
saindo do Teatro Municipal em direção à Praça da Sé. “Ninguém organiza isto, é
uma manifestação espontânea, as pessoas vão chegando e se juntando, já virou
uma tradição”, diz Walter Carvalho, que registrou o fato em seu filme.
Em agosto do ano passado, por ocasião
dos 25 anos da morte de Raul, uma exposição no Teatro Sesi, no centro do Rio,
apresentou fotos inéditas do artista, datadas de 1973, ano em que ele lançou o
álbum Krig-ha, bandolo! e alcançou notoriedade nacional. De autoria do falecido
fotógrafo Cláudio Fortuna, as fotos mostravam o gestual marcante do cantor, no
show de lançamento do álbum, em 16 de outubro daquele ano, no então Teatro Tereza
Rachel, em Copacabana.
A exposição foi a execução de um
sonho para sua curadora, Kika Seixas. Fortuna foi o responsável por levar
naquele dia a então jovem ao show do artista do qual se tornaria fã e com quem
viria a se casar anos depois.
“O show me impressionou muito.
Assisti 11 vezes. Ainda naquele ano, fui morar fora do Brasil e voltei em 1977,
para trabalhar na gravadora Warner, da qual Raul era contratado. Em 1979, dei
uma carona pra ele e foi amor à primeira vista. A gente ficou junto durante cinco
anos, até 1985, quando nos separamos”, conta Kika, guardião do Baú do Raul e a
única das cinco mulheres do cantor a manter uma ligaçao direta com a obra do
artista.
O depoimento de Paulo Coelho,
parceiro de Raul Seixas entre 1973 e 1978, numa relação conflitante - “éramos
amigos e inimigos íntimos”, disse o escritor numa entrevista em 2007 – é um dos
momentos mais marcantes do filme de Walter Carvalho. O cineasta considera a
mosca que apareceu de repente durante o depoimento o equivalente, para um
documentarista, à sorte que um goleiro tem ao agarrar um pênalti.
“Foi difícil a entrevista. O Paulo, que mora em Genebra, na Suíça, tem
muitos compromissos na agenda e já considerei um tento ele concordar em fazer a
entrevista. No meio, aparece uma mosca [coisa rara em Genebra] e o Paulo diz:
'É o Raul...Essa eu não vou matar'. Mas ele acaba matando
a mosca, e isso para mim revela a relação de conflito entre os dois”.
O reencontro de Paulo Coelho com Raul
Seixas se deu numa das últimas apresentações do roqueiro, quatro meses antes de
sua morte, em um show no Canecão, no Rio de Janeiro. O escritor, que estava na
plateia, subiu ao palco e cantou com Raul o refrão "Viva, viva, a
Sociedade Alternativa".
No depoimento para o filme, Paulo
Coelho diz que não há como explicar o mito em torno do cantor: “O Raul é uma
lenda, e lenda não se explica”.
Para Walter Carvalho, se ainda
vivesse Raul Seixas continuaria sendo a metamorfose ambulante, a mosca na sopa.
“Eu comparo ele com outro baiano, Glauber Rocha, que se não tivesse morrido
cedo também continuaria com o seu espírito provocador. Os dois faziam parte de
um mesmo tipo: o artista da contestação que mesmo envelhecendo mantêm a
irreverência em relação à questão política e à questão mercadológica.”.