Ex-Pink Floyd emocionou com clássicos; brasileiro foi bem no sax.
'Cadeira premium' de R$ 1200 tinha até 'bedel' para manter a ordem.
David Gilmour tinha acabado de tocar “Wish you were here” pela primeira vez no Brasil, para 40 mil fãs, na noite de sexta-feira (11), no Allianz Parque, em São Paulo. Fãs nas “cadeiras premium”, coladas no palco, se levantaram para aplaudir. “Não pode levantar nããão! Por favor, senteeem”, gritavam dois funcionários desesperados. Eram “bedéis” ajudando a manter a ordem na área em que cada ingresso custou R$ 1200.
Estavam todos de olhos brilhando no estádio lotado, dos fãs abastados sentados na frente aos de pé lá na turma do fundão, por “apenas” R$ 400. Não tinha coordenador de disciplina que segurasse a emoção de ouvir as notas lentas, precisas e elegantes do músico inglês de 69 anos, um dos guitarristas mais importantes da história do rock. David Gilmour tocou durante duas horas e meia.
Calmo e com jeitão “cool”, Gilmour não se abalava com as reações disparatadas entre as músicas dos seus álbuns mais recentes e os velhos clássicos do Pink Floyd. Pouco menos da metade do repertório era de “On an island.” (2006) e principalmente de “Rattle that lock”, recém-lançado. Todos aplaudiam, mas ninguém cantava ou se empolgava. Os fãs esperavam, claro, as antigas do Pink Floyd.
‘Ocupação dos VIPs’
O espaço surreal de gente sentada postando foto no Instagram a poucos metros do músico foi mantido em ordem até antes do bis. Em “Run like hell”, uma das poucas faixas com assinatura dele de “The Wall”, uma turma mais empolgada na esquerda começou a se abraçar e pular. Os bedéis e até seguranças tentaram empurrá-los de volta para o lugar.
No instinto jornalístico, me levantei para tentar tirar fotos do início de confusão e acabei criando um efeito dominó ao contrário de gente se levantando atrás de mim, no lado direito. Não tinha mais jeito. “Já rolava um coro de ‘Olê olê olê olê, Gilmour, Gilmour’”. De pé continuaram todos até o final, muitos ocupando a beira do palco em “Confortably numb”.
Problemas de ‘Money’
O início do show teve dois problemas. O primeiro foi que muita gente chegou atrasada, por causa do trânsito parado em volta do estádio. Na área mais cara, funcionários se desdobravam para ajudar a multidão de fãs premium a se enfiar nas longas fileiras com cadeiras marcadas.
O segundo contratempo foi no início de “Money”, uma das músicas mais esperadas. A vinheta com as moedas começou duas vezes em vão. O problema era no contrabaixo. Gilmour brincou: “A única música que precisa do baixo e ele some...” Na terceira tentativa se fez ouvir a marcante linha blueseira da música.
Não foi “Wish you were here” o maior coro, mesmo sendo a mais manjada. “Shine on you crazy Diamond” foi cantada com mais força. Seria o ponto mais alto de um show com vários deles, se não fosse o finalzinho. “Confortably numb”, com o solo clássico dele, e ainda ajudada pela “revolta dos VIPs” que eletrizou a parte perto do palco, foi o grande momento.
O bom álbum “Rattle that lock” e o anterior renderam momentos que, se não empolgavam, ajudaram a dar diversidade ao set. Dois destaques foram o belo solo da arrastada “The blue” e o jazz de “The girl in the yellow dress”. Essa foi uma em que brilhou o jovem saxofonista brasileiro João de Macedo Mello.
João foi muito aplaudido durante o show e teve momentos de destaque em “Money”, “Us and them” e outras. Na hora em que Gilmour apresentou a banda, o brasileiro foi mais aplaudido do que Phil Manzanera, ex-Roxy Music e um dos produtores de “Rattle that lock”.
Exceto o problema em “Money”, o som estava bom. A produção dispensa efeito especial ou pirotecnia. Apenas boa iluminação, com destaque para o grande telão no meio do palco.
Gilmour repete o show em São Paulo neste sábado (12), desta vez sem a área VIP turbinada com cadeiras. Os fãs premium, desta vez, pagam R$ 850 e ficam em pé mesmo. O ex-Pink Floyd ainda toca em Curitiba (14) e Porto Alegre (16).
Fonte: G1